Armando Côrtes-Rodrigues faz hoje 126 anos.
AO
SR. CÔRTES-RODRIGUES
Passo no mundo a vivê-lo,
Passo no mundo a senti-lo,
E esta côr do meu cabello
É o vê-lo e o possuí lo.
Passo no mundo a sonhá-lo,
Numa forma de vivê-lo,
E o meu sentido d’olhá-lo
É o sentido de vê-lo.
Só em Mim me concretiso,
E o Sonho da minha vida
Nesse Sonho o realiso.
E
sempre de Mim Presente,
Todo o Meu Ser se limita
Em Eu Me Ser Realmente.
Violante
de Cysneiros [Armando Côrtes-Rodrigues], 1915: «Ao Sr. Côrtes-Rodrigues».
Orpheu
– Revista Trimestral de Literatura, n.º 2. Directores: Fernando Pessoa / Mário de
Sá-Carneiro. Lisboa, p. 126.
[Consulta: 1989: Orpheu / Edição fac-similada. Lisboa: Contexto.]
Para
recordar e/ou ler e/ou ser (mais) informado:
«MODERN!SMO
– Arquivo Virtual da Geração de Orpheu –
Armando Côrtes-Rodrigues»
e/ou «Dr. Armando
Côrtes-Rodrigues».
«Entre os
escritores que comummente mais se estranharia não ligássemos ao Modernismo,
destaca-se Armando Côrtes-Rodrigues […].
Foi colaborador de ambos os números de Orpheu,
no segundo deles sob o pseudónimo de Violante de Cysneiros, mas na sua obra
predomina a nota popular açoriana, em consonância aliás com o interesse que o
leva a dedicar-se à etnografia regional, sobre que publicou importantes artigos
e monografias. As poesias saídas no Orpheu
em seu próprio nome inserem-se sem originalidade no Paulismo […] Mas as
subscritas por Violante de Cysneiros, mais afins ao Pessoa ortónimo,
predominantemente em quadras, contam-se entre as suas coisas melhores. […]».
Óscar LOPES, 1987: Entre
Fialho e Nemésio - II.
Lisboa: IN-CM; pp. 608-609.
Para uma análise do «artifício do disfarce», com evidente cumplicidade
de Fernando Pessoa, na colaboração de Orpheu 2*, sob o
pseudónimo («heterónimo», segundo Eduíno de Jesus – Biblos, vol. I, 1995,
col. 1314) de Violante de Cysneiros, ler
Anna Klobucka, 1990: «A Mulher Que Nunca Foi. Para um retrato bio-gráfico de
Violante de Cysneiros», em Colóqui/Letras, n.º 117/118; pp. 103-116.
*Os nove poemas publicados em Orpheu 2 (pp. 121-127), todos
datados de «Junho, 1915», são apresentados como sendo «dum anónimo ou anónima
que diz chamar-se Violante de Cysneiros» (p. 121), com a seguinte, no mínimo
curiosa, «N. B. – Apareceram-nos na Redacção estes belos poemas, que um anónimo
engenho doente realisou. Publicamo-los, porque disso são dignos, importando-nos
pouco a personalidade vital de que possam emanar. Toda a obra de arte é a
justificação de si-própria.» (p. 122)
Violante de Cysneiros / Armando Côrtes-Rodrigues dedica esses poemas a
figuras importantes do primeiro modernismo português: Álvaro de Campos,
subintitulado «O Mestre» (4), Mário de Sá-Carneiro (1), Fernando Pessoa (1),
Alfredo Pedro Guisado (1) e, curiosamente, a si própria(o) (2): «Ao Sr. Côrtes-Rodrigues»
- acima reproduzido - e «A Mim Própria / De há dois anos».
NB1 - Fotografias colhidas em Google+ / Imagens / Armando
Côrtes-Rodrigues.
NB2 -
Respeitadas grafia e pontuação das edições consultadas.
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