III. Dispersos
III.1. Poema (LXVIII)
Todos os dias são da poesia e sua partilha, como pão nosso de cada dia.
Ainda não Encontrei Amigo a Palavra*
[Ao Professor Lima de Carvalho]
ainda não encontrei amigo a palavra
prometida apesar das enciclopédias
dos dicionários e livros inumeráveis
ainda não encontrei amigo a palavra
que em dia de pedras anónimas jurei
inscrever contra os insectos da luz efémera
avarentos inebriados de fome incontida
entre as colheitas da seara pródiga
ainda não encontrei amigo a palavra
que em tarde lenta de domingo te prometi
descobrir num poema breve de preferência
redondilha ou verso branco de terra
sal e vento como sentias e sempre desejavas
quando subitamente deixaste de atender
o telefone e tanto silêncio alto então caiu
sobre a boca assim nascendo o sabor da ausência
ainda não encontrei amigo a palavra
prometida cuja fonte incerta procuro e agora só
quero entregar-te em mão própria com o abraço
que daremos na devida altura do nosso reencontro
David F. Rodrigues
[Dezembro, 2006]
* Texto destinado ao n.º 3 da revista IPVC-Academia, organizado em memória e homenagem ao Prf. Lima de Carvalho (1928-2006), que todavia não chegou a ser editado.
«Ainda não Encontrei Amigo a Palavra» foi publicado em A Falar de Viana, 2012 (Vol. I, Série 2), Viana do Castelo, Vianafestas; p. 41.
NB - Todos os direitos reservados.
Posso dizer que este é um dos melhores, em que a palavra afinada encontra, apesar da negação, o registo poético fulgurante, a inquietude ética de estar no mundo?
ResponderEliminarMUITO BOM.
Muito obrigado, Ibel! Sim, esta elegia é, para além do seu eventual valor poético, que generosamente referes, a minha modesta,mas sentida, homenagem a um GRANDE AMIGO!
Eliminar