sábado, 4 de fevereiro de 2017

Almeida Garrett faz hoje* 218 anos.

ESTE INFERNO DE AMAR

Este inferno de amar – como eu amo!
Quem mo pôs aqui n’alma… quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é a vida – e que a vida destrói –
Como é que se veio a atear,
Quando – ai quando se há-de ela apagar?

Eu não sei, não me lembra: o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez… - foi um sonho –
Em que paz tão serena a dormi!
Oh! Que doce era aquele sonhar…
Quem me veio, ai de mim! despertar?

Só me lembra que um dia formoso
Eu passei… dava o sol tanta luz!
E os meus olhos, que vagos giravam,
Em seus olhos ardentes os pus.
                                                                Que fez ela? eu que fiz? – não no sei;
                                                                Mas nessa hora a viver comecei…

Almeida Garrett, 1998: Folhas Caídas.
(Introdução por Maria Ema Tarracha Ferreira). S/l: Ulisseia; p. 118.

Para recordar:

«[…] Arredando os assuntos convencionais e as cenografias obrigadas quer do classicismo quer do romantismo literário, o poeta mete pelo verdadeiro caminho não só do romantismo superior como, afinal, de toda a grande poesia: que é fazer arte da sua dor e do seu sonho, isto é: mergulhar na experiência pessoal as raízes dos seus poemas. […] Isso deu às Folhas Caídas uma vibração e uma sinceridade que explicam o seu poder duradouro. […].»
José RÉGIO, 19764: Pequena História da Moderna Poesia Portuguesa.
Porto: Brasília Editora; p. 17.]

* Hoje, Jacques Prévert faz 117 anos. Poeta francês (Neuilly-sur Seine, 1900 - Omonville-la-Petite, 11-04-1977), Paroles (1946) é o seu livro de poemas mais conhecido, publicado logo após a 2ª grande guerra (1939-1945). Da sua edição (bilingue) portuguesa (Palavras / Paroles, Lisboa, Sextante, 2007), com tradução por Manuela Torres, transcrevo:

«O RAMO DE FLORES // Que fazes aí menina / Com essas flores recém-colhidas / Que fazes aí rapariga / Com essas flores já secas / Que fazes aí mulher bonita / Com essas flores que murcham / Que fazes aí velha / Com essas flores já mortas // Espero o vencedor.» [p. 307].

Obs. 1 - Respeitada a grafia das edições consultadas.
Obs. 2 - Os retratos do Poeta, reproduzidos neste "post", foram colhidos em Google / Imagens / Almeida Garrett.

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