sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017


   José Augusto Seabra faz hoje* 80 anos.

[Dois poemas]


A lente não contorna
por dentro toda a margem
de sombra. E desmorona
o centro da miragem
se a pupila demora
a imagem sobre a imagem
da morte contra a morte.

                 *

Quando o corpo desenha
todo o seu outro lado
de sombra, donde vem
aquela frialdade
que a chama não sustém?


José Augusto Seabra, 1996: Sombras de Nada.
(Prefácio - «A Luz da Sombra» - de Eduardo Lourenço). Lisboa: Quetzal; pp. 41 e 47. 

Para recordar e/ou ler e/ou ser (mais) informado:

«[…] O seu primeiro livro intitula-se A Vida Toda (1961). A sua poesia, onde certas marcas ligadas a uma atitude de resistência política são visíveis, ganha uma outra amplitude nos livros seguintes pelo modo como vai ser levado cada vez mais longe um exercício sobre as possibilidades da palavra num espaço privilegiado que a transforma em signo […]. Daí um progressivo esvaziamento do próprio sentido das palavras através de uma desmemória […] ou de uma espécie de jogo que entre elas se estabelece sobretudo pela atenção prestada a uma dimensão significante que acaba por problematizar esse esvaziamento. Paralelamente, o recurso ao poema breve, o qual, por vezes, nos conduz a uma impressão quase pictórica, concorre para que este efeito se produza. […]».

Fernando GUIMARÃES, 2001: «SEABRA (José Augusto)».
Em Biblos – Enciclopédia Verbo das Literaturas de Língua Portuguesa. (Vol. 4)
S/l: Verbo; col. 1207.

* Também fazem anos, hoje, «Rosalía deCastro» e «David Mourão-Ferreira».

NB1 - As fotografias do Poeta foram colhidas em Google+ / Imagens / José Augusto Seabra.
NB2 - Foram respeitadas grafia e pontuação das edições consultadas.

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