quinta-feira, 30 de outubro de 2014



português suave dois
(ou variante de português suave um*)


agora é se por
tuguês destarte

medalha de la
tão na lapela

ou estandarte desfi
gurado made in china

penduricado a des
fiar se na janela

e camisola de sal
do vestida ronaldo

esta não é de caras
a minha seleção

david f. rodrigues
viana, 25-04-2014

* «português suave [um]», AQUI.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

I. Poesia em livro




Todos os dias são da poesia e sua partilha, como pão nosso de cada dia.

[Continuação do post anterior, dentro da mesma rubrica]


[Continuará]

sábado, 25 de outubro de 2014



porto de amar
o meu permanente
é o mar

ora como o planar
sereníssimo da gaivota
ao longo deste azul
infinito de gradiente

ora como o feroz
animal marinho que  vencido
e ferido na indomável tempestade
nele encontra sempre
novo e plácido abrigo

david f. rodrigues
viana, 25-10-2014

quarta-feira, 22 de outubro de 2014



anda este orfeu
amigo meu
com paciência
de corno tal
ou seja dor
que tanto vale
por causa dessa
sabida eurídice

que só visto

à lira preso
como possesso
ao canto dado
de enamorado
que não desiste
eternamente
sempre tão triste

e ela feliz
toda contente
indiferente
só quer orgias
e mais folias
em bacanais
com imbecis
e outros que tais

uns jograletas
com a mania
que são poetas
pobres coninhas
cujas versinhas
mal amanhadas
reles punhetas
são de picinhas

eu no lugar
dele coitado
abandonado
há muito tinha
de vez mandado
levar no cu
essa morrinha
de merda toda

e ela mandado
para o caralho
que bem a foda

david f. rodrigues
viana, 24-03-2014


Publicado, sem título, com a numeração «vii», em estes cantares fez & som escarnhos d'ora. Viana do Castelo: ed./a., 2015/2016, pp. 17-18.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

I. Poesia em livro




Todos os dias são da poesia e sua partilha, como pão nosso de cada dia.

[Continuação do post anterior, dentro da mesma rubrica]


[Continuará]



domingo, 19 de outubro de 2014



Ao Adélio Melo


se o animal dito com razão
perder a racionalidade
não deixa por isso de ser homem

agora experimenta viver
sem a tua animalidade

estou já certo que depois
lázaro nem por milagre
me contarás a única experiência
de vida racional para que passaste

david f. rodrigues
viana, 19-10-2104
[Atualizado em 19-10-2017]

Todos os direitos reservados.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

quinta-feira, 16 de outubro de 2014



a rapariga parece mesmo
deus me perdoe se peco
um triste pau de virar tripas
disse a primeira comadre

mas também casar hoje assim
num dia de chuva a cântaros
é só de quem se lambe toda
por papas de farinha de milho
cabaneirou a segunda comadre

ai tenha o rapaz espigueiro cheio
de grão para moer em farinha
e dentro de três quatro meses
vamos tê-la já bem gordinha

concordavam as duas comadres
e as outras que óó as acolitavam

passados vinte anos contudo
os sogros de ambos os lados ainda
não sabem o que é ter um neto

a encher a tripa de rojões a dedo
continua por isso a nora enquanto
o genro cada ano mais difícil vê
quem lhe queira mercar os grãos

david f. rodrigues
viana, 16-10-2014



Publicado depois, sem título e a numeração «xlvii», em estes cantares fez & som escarnhos d'ora (2015/16). Viana do Castelo: ed./a., p. 72.

quarta-feira, 15 de outubro de 2014


por natureza o poeta
não é um fala-barato

quando muito sabe tratar-se
tão só dum consciente fala-só

os sons que por ventura dele
nos chegam ecos distantes são
de pensar em poema frequente

raro é por isso e feliz aquele
que em tais circunstâncias especiais
pode ouvi-lo clara e distintamente

sai muito cara sempre
ao poeta toda a palavra

david f. rodrigues
viana, 15-10-2014



NB - Publicado depois, sem título, com a numeração «14.», em o rosto, Leça da Palmeira, Eufeme, n.º 14 da coleção «Poetas da Eufeme», 2018, p. 24.

IV. Frutos da Terra e do Homem


Poesia limiana selecionada por poetas limianos*


Álvaro Feijó**

Seleção e nota biobibliográfica: David F. Rodrigues




«Nasci numa manhã com neblina de bronze
sobre o rio.
O Sol era uma incógnita na bolsa esverdeada do horizonte
e, embora primavera, uma manhã de outono.»

[Os Poemas de Álvaro Feijó, 1961: 32]


Com esta estrofe, dá início Álvaro Feijó ao breve poema «Registo», datado de 1939. Nela, o poeta como que perspetiva o seu brevíssimo percurso de vida: uma manhã de primavera que logo fica outono. Nascido em Viana do Castelo, a 5 de julho de 1916, morre, em Lisboa, a 9 de março de 1941, três meses antes de completar 25 anos de idade. Filho de família aristocrática vianesa, Álvaro Feijó fez os estudos secundários num colégio jesuíta da Galiza. Transitou, depois, para Coimbra, onde frequentou a Faculdade de Direito. É sobrinho-neto de António Feijó (1859-1917) e sobrinho direito de Salvato Feijó (1876-1959), escritores naturais de Ponte de Lima.
Publicou, em vida, apenas um livro de versos – Corsário (1940). Preparava a edição de Diário de Bordo, quando a tuberculose o vitimou. Deve-se a Rui Feijó, seu irmão, e a amigos e companheiros de Coimbra, não ter caído no esquecimento a parca mas significativa obra poética que produziu. Com o espólio fornecido pela família e namorada, Joaquim Namorado e João José Cochofel reuniram, em 1941, Os Poemas de Álvaro Feijó (Coimbra, col. «Novo Cancioneiro»), prefaciados por Armando Bacelar. Além de Corsário e Diário de Bordo, Namorado e Cochofel selecionaram de Desgarradas (três cadernos de inéditos autógrafos do jovem poeta) um conjunto de poemas a que deram o título de «Primeiros Versos». Em 1961, sai a 2.ª edição (Lisboa, Portugália), com prefácio de João José Cochofel e posfácio de Rui Feijó. Na organização desta edição, considerada ne varietur, Cochofel contou com a colaboração de Carlos de Oliveira. Seguiram-se mais três edições, o que mostra o reconhecimento da sua obra.
Duas orientações principais se encontram na poesia de Álvaro Feijó. Uma, presente sobretudo nos seus primeiros versos, está centrada no eu e no amor (dividido entre o espiritual e o carnal), ao lado, por vezes, de um humanismo idealista. Marcada ainda por influências da poesia do tio-avô, além de outros poetas dos finais do século XIX, tal orientação está ainda presa a formas tradicionais de composição, a nível estrófico, métrico e mesmo temático. Uma segunda orientação, presente sobretudo em Corsário e Diário de Bordo, revela-nos um poeta já solto das «amarras» formais tradicionais. Recorre ao verso livre, os seus poemas são mais discursivos, mais naturais, mais espontâneos. Acentua-se a sua atenção ao real quotidiano e aos problemas sociais e humanos, fruto certamente do convívio próximo que, em Coimbra, manteve com os poetas do emergente neorrealismo português, de quem foi, aliás, companheiro e amigo: Políbio Gomes dos Santos, Joaquim Namorado, Fernando Namora, Carlos de Oliveira e João José Cochofel, entre outros.
A seleção dos poemas que a seguir se apresenta procura mostrar, dentro das limitações possíveis, as referidas orientações do poeta.
[As pp. indicadas de localização de cada poema referem-se à 2.ª ed. da obra (1961). Respeitei a grafia do original consultado. O disposição gráfica do texto e sua ilustracão sofrerão, nesta edição, várias alterações.]





* Publicado em Limiana – Revista de informação, cultura e turismo, n.º 39 (ano VIII), 2014, pp. 26-27. Esta publicação (bimestral) é editada pela Casa do Concelho de Ponte de Lima, com sede em Lisboa, sendo seu diretor José Pereira Fernandes.
** O retrato do Poeta acima reproduzido é uma gravura em madeira, de Somar,  em Os Poemas de Álvaro Feijó, 1941.

terça-feira, 14 de outubro de 2014


o poeta que falava
pelos cotovelos calou-se

espera agora que a dor
aguda sentida nos ditos
lhe desapareça de vez
com as doses de silêncio

anda contudo isolado cabisbaixo
introvertido talvez

o seu maior desgosto
de vida é um dia ter
de ficar calado para sempre

e com dor de cotovelo
sem poder coçar o olho

david f. rodrigues
viana, 14-10-2014




Publicado depois, sem título, com a numeração, «vi», também em estes escarnhos fez & som d'ora (2015/16). Viana do Castelo: ed./a.,  «vi», p. 16.


sexta-feira, 10 de outubro de 2014

IV. Frutos da Terra e do Homem


                                 Todos os dias são da poesia e sua partilha, como pão nosso de cada dia.


                                                                  Cristóvão Pavia fez 35 anos, no dia 07 deste mês*.



* Por lapso meu, confundi a data de nascimento do Poeta (07/10/1933) com a data da sua morte (13/10/1968). Daí não ter saído no dia oportuno esta recordação. Peço desculpa.

NB - As fotografias ddo Poeta foram colhidas na internete.


I. Poesia em livro




Todos os dias são da poesia e sua partilha, como pão nosso de cada dia.


[Continuação do post anterior, dentro da mesma rubrica]






[Continuará]

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

IV. Frutos da Terra e do Homem



UM LIVRO SOBRE A CIDADE DO PORTO


     Lugares e palavras do Porto é um livro dedicado  a esta cidade e aos portuenses. Trata-se de um coletânea de textos em prosa («Estórias» e «Memórias»), em verso («metáforas») e de um registo do falar/linguajar tripeiro («Dicionário de Portoguês»). Estas secções encontram-se separadas por fotografias, a preto e branco, que mostram alguns lugares da Invicta, da autoria de Aurélio Mesquita, que é também o autor da aguarela que ilustra a capa.
      São 20 os textos em prosa: 15 «Estórias» e cinco «Memórias», mais ou menos ficcionadas, mais ou menos humoradas, mais ou menos bem conseguidas. Os seus autores são (os títulos seguem entre parênteses): Maria Dolores Garrido («Domingos Mira Flor»); Ana Cruz («As malas da Gisele»), que participa também com dois textos em «Memórias»; Maria Clara Miguel («Na Bertrand»); Anabela Borges («A gaita do amolador»); António Oliveira («O Tono da Ribeira»); Clementina de Sousa («Por debaixo do chão»); Manuel Maria («O Astrólogo»); Sara Timóteo («Geografia da ausência»); Cristina Vieira Caldas («De mãos dadas com o Porto»); Glória Poças («Uma tímida travessia»); Silvino Figueiredo («Um nabo que pediu um molete»); Fátima Nascimento («O jogo do FCP»); Maria Eugénia Ponte («A Betesga do Porto»); Gabriela Silva («Um coração sem cor»); e Goreti Dias («Um travesti em Santo Isidro»).
Os memorialistas são Ana Cruz («O S. João da minha infância» e «Quer uma escova»), que já participara nas «Estórias»); Cristina Silva («Porto – Uma pequena reflexão»); Aline («A mulher “carquejeira”»); e Donzília Martins («Memórias»).
Na secção «Metáforas», encontramos poemas de Margarida Basaloco («Invicta»); Donzília Martins («Silêncios para ti»), que já participara também em «Memórias»; Glória Costa («Sempre que te abraço» e «Rio Douro»); Sérgio Sá Marques («Velázques [sic] no Porto» e «Quatro quadras»); Euclides Cavaco («Porto, leal cidade»); Carlos Faria Costa («Minutos de silêncio no Porto»); Maria Fátima Soares («Porto, meu porto»); Catarina Dinis («O Porto de há 20 anos»); e Adélia Pires («Nobre cidade»).


A coordenação é da responsabilidade de João Carlos Brito, que é também quem assina o dicionário «Falar Portoguês». A edição do livro pertence a «Lugar da Palavra Editora» (Rio Tinto) e o livro veio a público em meados do corrente ano.

Não cabe aqui, neste post, uma análise crítica pormenorizada do livro (dada a sua diversidade de géneros). Até porque, além disso, nem todos os textos incluídos no volume merecerão tal trabalho. Mas cabe, certamente, uma síntese do seu conteúdo, e essa encontra-se na última página do volume:

«O Porto em estórias, memórias, imagens e poemas.
O casario, a Ribeira, as varandas, as vizinhas. O aeroporto, a estação de S. Bento, as lojas tradicionais e as livrarias, os escritores do Porto. As artes e os ofícios, o amolador, as carquejeiras, o Fêquêpê. As gentes, os artistas, os cromos, os bacôcos [sic] e as polidoras de esquinas. O Duque, os namorados, os ambientes. A Baixa, os arredores, as lendas. Os moletes, os nabos e os cámones [sic]. O S. João, os rabelos, o Douro. O sentimento tripeiro, as estórias da nossa história.
Estas são algumas das temáticas abordadas em “Lugares e Palavras do Porto”.
[…] E, porque uma das marcas dos portuenses é o seu linguajar, o Dicionário de Portoguês dá a conhecer mais de 2500 palavras e expressões dos falares do Porto», considerada «a maior e mais completa recolha de sempre.»

Dado como «livro só para quem ama» a região sobretudo metropolitana da cidade, a verdade, porém, é que Lugares e Palavras do Porto interessa a todos os leitores, mesmo àqueles que não gostam da Invicta. Lendo-o, talvez fiquem a gostar ou a compreender porque não gostam. Ou, quem sabe, a deixar de não gostar.

NB - Agradeço à Maria Clara Miguel a oferta e envio do livro. Muito obrigado.



IV. Frutos da Terra e do Homem



Todos os dias são da poesia e sua partilha, como pão nosso de cada dia.


Maurício de Sousa
[Retrato (pormenor) de Salvador Vieira]





MAURÍCIO DE SOUSA (1943) é natural e residente em Viana do Castelo. Poeta, é autor de quatro livros: Do Lento Apetecer o Tempo (1975), Domínios Consentidos (1982), Poemas sob a Colina (1986) e Tear de Cactos (1989). São temas recorrentes da sua poesia o amor, a morte e a solidão, vertidos num fino discurso de palavras essenciais. Pela disciplina que impõe ao verso, pelo domínio dos recursos, pela expressão contida das emoções, os seus poemas revelam um acto contínuo de rigor poético[DFR]

NB - Escultura - «Flor» -de João Cutileiro, em Ponte de Lima: fotografia de Amândio de Sousa Vieira (ver AQUI). Retrato a óleo (pormenor) do Poeta, por Salvador Vieira:  fotografia de DFR.