Tomaz Kim faz
hoje 102 anos.
CANTO TERCEIRO
[*]
6
Quando a
morte vier, meu amor,
fechemos os
olhos para a olhar por dentro
e deixemos
aos nossos lábios o murmúrio
da palavra
branda jamais pronunciada
e às nossas
mãos a carícia dispersa;
relembremos
o dia impossível,
belo por
isso e por isso desprezado,
e
esqueçamos o que nos não deixaram ver
e o resto
que sobrou do nada que possuímos;
deixemos à
poesia que surge
o pranto de
quem a trocou para comer
e os passos
sem rumo pelas ruas hostis;
deixemos à carne
o que não alcançámos,
e morramos
então, naturalmente…
Tomaz Kim, 2001: Obra
Poética.
Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda; p. 206.
[* Incluído, inicialmente, na
coletânea Dia da Promissão,
Lisboa,
«Cadernos de Poesia», 1945.]
«[…] Fundador e co-director da 1.ª série dos «Cadernos de Poesia», Tomaz
Kim (pseudónimo de Joaquim Fernandes Tomaz Monteiro-Grillo) […] começou a publicar a partir de 1939. Autor
de formação anglo-saxónica – tendo vivido e estudado na Cidade do Cabo, em
Lisboa e em Londres - , o poeta {é
[…]} naturalmente marcado pela
poesia britânica do seu tempo […]. / […] / Praticando um estilo assente em versos relativamente límpidos,
aproveitando sabiamente a respiração de certas pausas, reticências ou
repetições anafóricas destinadas a criar efeitos rítmicos que todavia nunca
cedem à musicalidade mais fácil, a poesia de Tomaz Kim não pretende chocar o
leitor ao nível da linguagem, vivendo sobretudo de algumas sugestões habilmente
urdidas por um sentido integrador que se mantém atento à coerência de cada poema
e lhe confere a sua unidade. […]»
Fernando Pinto do AMARAL,
2001: «Prefácio».
Em Tomaz KIM,
2001: Obra Poética.
Lisboa: IM-CM;
pp. 7 e 8.
Obs. 1 - Respeitada a grafia da edição consultada.
Obs. 2 - Os retratos do Poeta, reproduzidos neste "post", foram colhidos em Google / Imagens / Tomaz(-ás) Kim.
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