quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017


 Tomaz Kim faz hoje 102 anos.

CANTO TERCEIRO [*]


6

Quando a morte vier, meu amor,
fechemos os olhos para a olhar por dentro
e deixemos aos nossos lábios o murmúrio
da palavra branda jamais pronunciada
e às nossas mãos a carícia dispersa;
relembremos o dia impossível,
belo por isso e por isso desprezado,
e esqueçamos o que nos não deixaram ver
e o resto que sobrou do nada que possuímos;
deixemos à poesia que surge
o pranto de quem a trocou para comer
e os passos sem rumo pelas ruas hostis;
deixemos à carne o que não alcançámos,
e morramos então, naturalmente…

Tomaz Kim, 2001: Obra Poética.
Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda; p. 206.
[* Incluído, inicialmente, na coletânea Dia da Promissão,
Lisboa, «Cadernos de Poesia», 1945.]


«[…] Fundador e co-director da 1.ª série dos «Cadernos de Poesia», Tomaz Kim (pseudónimo de Joaquim Fernandes Tomaz Monteiro-Grillo) […] começou a publicar a partir de 1939. Autor de formação anglo-saxónica – tendo vivido e estudado na Cidade do Cabo, em Lisboa e em Londres - , o poeta {é  […]} naturalmente marcado pela poesia britânica do seu tempo […]. / […] / Praticando um estilo assente em versos relativamente límpidos, aproveitando sabiamente a respiração de certas pausas, reticências ou repetições anafóricas destinadas a criar efeitos rítmicos que todavia nunca cedem à musicalidade mais fácil, a poesia de Tomaz Kim não pretende chocar o leitor ao nível da linguagem, vivendo sobretudo de algumas sugestões habilmente urdidas por um sentido integrador que se mantém atento à coerência de cada poema e lhe confere a sua unidade. […]»
Fernando Pinto do AMARAL, 2001: «Prefácio».
Em Tomaz KIM, 2001: Obra Poética.
Lisboa: IM-CM; pp. 7 e 8. 


Obs. 1 - Respeitada a grafia da edição consultada.
Obs. 2 - Os retratos do Poeta, reproduzidos neste "post", foram colhidos em Google / Imagens / Tomaz(-ás) Kim.

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