Georg Trakl faz hoje 130 anos.
VENTO SUÃO
Lamento cego no vento, dias
lunares de inverno,
Infância, baixinho morrem os
passos junto à sebe negra,
Longo toque de sinos ao
anoitecer.
Baixinho vem aí a noite branca,
Transforma em sonhos purpúreos
dor e martírio
Da vida pedregosa,
Que o ferrão espinhoso nunca
deixe o corpo a decompor-se.
Fundo no sono suspira a alma
medrosa,
Fundo o vento em árvores
partidas,
E vacila a figura lamentosa
Da mãe pelo bosque solitário
Deste luto calado; noites,
Cheias de lágrimas, de anjos de
fogo.
Argênteo despedaça-se contra um
muro nu um esqueleto infantil.
Georg Trakl, 1981: Poemas. Porto:
O Oiro do Dia; p. 117.
[Antologia
(bilingue). Prefácio de Ludwig Scheidel. Versão portuguesa e introdução
de Paulo Quintela, de edição em
alemão, Salzburgo 1969.]
«[…] Tudo em Trakl – os homens, as coisas, as imagens que os sugerem ou os
evocam, os cheiros, os sons e as cores (ou os sons coloridos e as cores
sonoras) – pertence a um mundo de corrupção, de decadência, de podridão, de
nojo e de ruína. As cores sobretudo ganham independência e valor simbólico, têm
validade própria, desligadas dos objectos ou dos seres; são, por si, evocativas
de mundos inteiros de representações. […].»
Paulo QUINTELA, 1981: «A Poesia de Georg
Trakl / 1887 – 1914».
Em Georg TRAKL, 1981: Poemas. Porto: O Oiro
do Dia; p. 31.
Obs. 1 -
Respeitada a grafia da edição consultada.
Obs. 2 - Os
retratos do Poeta, reproduzidos neste "post", foram colhidos em
Google / Imagens / Georg Trakl.
Sem comentários:
Enviar um comentário