sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017


Georg Trakl faz hoje 130 anos.

VENTO SUÃO

Lamento cego no vento, dias lunares de inverno,
Infância, baixinho morrem os passos junto à sebe negra,
Longo toque de sinos ao anoitecer.
Baixinho vem aí a noite branca,

Transforma em sonhos purpúreos dor e martírio
Da vida pedregosa,
Que o ferrão espinhoso nunca deixe o corpo a decompor-se.

Fundo no sono suspira a alma medrosa,

Fundo o vento em árvores partidas,
E vacila a figura lamentosa
Da mãe pelo bosque solitário

Deste luto calado; noites,
Cheias de lágrimas, de anjos de fogo.
Argênteo despedaça-se contra um muro nu um esqueleto infantil.

Georg Trakl, 1981: PoemasPorto: O Oiro do Dia; p. 117.
[Antologia (bilingue). Prefácio de Ludwig Scheidel. Versão portuguesa e introdução
de Paulo Quintela, de edição em alemão, Salzburgo 1969.]

«[…] Tudo em Trakl – os homens, as coisas, as imagens que os sugerem ou os evocam, os cheiros, os sons e as cores (ou os sons coloridos e as cores sonoras) – pertence a um mundo de corrupção, de decadência, de podridão, de nojo e de ruína. As cores sobretudo ganham independência e valor simbólico, têm validade própria, desligadas dos objectos ou dos seres; são, por si, evocativas de mundos inteiros de representações. […].»
Paulo QUINTELA, 1981: «A Poesia de Georg Trakl / 1887 – 1914».
Em Georg TRAKL, 1981: Poemas. Porto: O Oiro do Dia; p. 31.

Obs. 1 - Respeitada a grafia da edição consultada.
Obs. 2 - Os retratos do Poeta, reproduzidos neste "post", foram colhidos em Google / Imagens / Georg Trakl.

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