sábado, 11 de fevereiro de 2017


Daniel Filipe faz hoje 92 anos.

O Viajante Clandestino
 

 III

Este é o local, o dia, o mês, a hora.
O jornal ilustrado aberto em vão.
No flanco esquerdo, o medo é uma espora
fincada, firme, imperiosa. Não
espero mais. Porquê esta demora?
Porquê temores, suores? Que vultos são
aqueles, além? Quem vive ali? Quem mora
nesta casa sombria? Onde estão
os olhos que espiavam ainda agora?
O medo, a espora, o ansiado coração,
a noite, a longa noite sedutora,
o conchego do amor, a tua mão…

Era o local, o dia, o mês, a hora.
Cerraram sobre ti os muros da prisão.

 Daniel Filipe, 1974: Pátria Lugar de Exílio.
                                                           Lisboa: Presença; p. 43. [1.ª ed., 1963]


Para recordar e/ou ser (mais) informado:



«Se dizemos que é tempo de fazer regressar ao nosso convívio a poesia de Daniel Filipe, sobretudo a poesia de A Invenção do Amor e outros poemas, falamos apenas em regresso físico – à palavra impressa, ao livro. Em qualquer outra acepção, não há que falar em regresso: os seus poemas estão aí como sempre estiveram – hoje até mais actuais, com uma acuidade mais viva, como se a comunicação que entre eles e nós se estabelece tivesse conquistado uma nova dimensão, ou porque a nossa actualidade se abriu mais à palavra da Daniel Filipe, encontrando-se de súbito mais próxima dessa poesia que funde tão intimamente amor e liberdade. […]»

Francisco ESPADINHA, 1983: «Nota sobre a Invenção do Amor».
Em Daniel Filipe, 19836: A Invenção do Amor e Outros Poemas.
Lisboa: Presença, p. 9. [1.ª ed., 1960]

NB1 - As fotografias do Poeta foram colhidas em Google+ / Imagens / Daniel Filipe.
NB2 - Foram respeitadas grafia e pontuação das edições consultadas.

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