Luís de Montalvor faz hoje 126 anos.
INFANTE [*]
I
Baby!
Sossega a tua voz. Não digas mais
essas
canções do Mundo. Deixa… que eu esqueço
que
fui menino ao colo de seus pais.
Deixa!
que o coração em si mesmo o adormeço…
Com
olhos de criança olho os desiguais
dias
e nuvens, sós, passando, e empalideço…
Canto
de Prometeu todo desfeito em ais!
E
a vida, a vida até, brinquedo que aborreço…
Mundo
dos meus enganos – como a desventura –
Experiência?
– pobre fumo! anela o meu cabelo
e
põe-me o bibe azul e antigo da Ternura…
Que
a vida, essa Babel desfeita que se embala,
ainda
é para mim – criança de Deus – pesadelo
da infância das fanfarras,
fogos de Bengala!
Luís de Montalvor, 1998: Os Poemas de Luís de Montalvor.
Porto: Campo das Letras; p. 53. (Leitura, estudos e notas de Arnaldo Saraiva).
«Luís de Montalvor é o poeta português do século XX
mais escandalosamente ignorado ou injustiçado. / […] / Alguns condenarão in limine uma poesia que dirão
artificial, sem se darem conta de que o seu artificialismo correspondia ao modo
natural de quem se queria artífice - de quem, como Mário de Sá-Carneiro, via na
originalidade e na excentricidade um refúgio de liberdade e de triunfo sobre um
real impossível. […] / Esse “artificialismo” não impede a gravidade e densidade
dos poemas de Montalvor […]. Na sua expressão dramática ou no seu requinte
formal, [… / …] poemas como “Infante”, “Sala morta”, “Pausa”, “Entardecer!”,
“Écloga” [ver AQUI], “Dromedário” definem um poeta que nunca mais pode ser ignorado, nem
desprezado.»
Arnaldo
SARAIVA (ed.), 1998: O Livro de Poemas de
Luís de Montalvor.
Porto: Campo das Letras; pp. 15-16.
Obs. 1 - Respeitadas as grafias das edições consultadas.
Obs. 2 - Os retratos do Poeta, reproduzidos neste "post", foram colhidos em Google / Imagens / Luís de Montalvor
.
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