Todos os dias são da poesia, como pão nosso de cada dia.
Natália Correia faz hoje 94 anos.
BALADA PARA UM HOMEM
NA MULTIDÃO
Este homem que entre a multidão
enternece por vezes destacar
é sempre o mesmo aqui ou no Japão
a diferença é ele ignorar.
Muitos mortos foram necessários
para formar seus dentes um cabelo
vai movido por pés involuntários
e endoidece ser eu a percebê-lo.
Sentam-se à mesa de um café
num andaime ou sob um pinheiro
tanto faz desde que se esqueça
que é homem à espera que cresça
a árvore que dá dinheiro.
Alimentam-no do ar proibido
de um sonho que não é dele
não tem mais que esse frasco de vidro
para fechar a estrela do norte.
E só o seu corpo abolido
lhe pertence na hora da morte.
Natália Correia, 1975: Poemas a Rebate.
Lisboa: Dom Quixote, p. 69.
NB - As imagens da Poeta foram colhidas em Google / Imagens / Natália Correia.
Alimentam-no do ar proibido
ResponderEliminarde um sonho que não é dele
não tem mais que esse frasco de vidro
para fechar a estrela do norte.
E só o seu corpo abolido
lhe pertence na hora da morte.
Obrigado, I(sa)bel!
EliminarBem lembrada, caro David. Foi uma Mulher, - assim, com maiúscula - na literatura, na cidadania, nas ideias desassombradas, fraturantes às vezes. Já agora: neste dia 13 também nasceu o teu Aquilino (1885) e morreram Montaigne (1592), Herculano (1877) e António Nobre (1900) Abraço forte.
ResponderEliminarObrigado, Cláudio Amigo! Sim, o Aquilino, é um dos meus romancistas portugueses preferidos. «A Casa Grande de Romarigães» é, entre outros, um monumento da literatura em português escrita. Utilizei, nas minhas dissertações (mestrado e doutoramento) muitos textos de sua autoria. Em anos anteriores, também "postei" um apontamento sobre a data de nascimento do autor de «O Malhadinhas». Mas como não quero sobrecarregar... Quanto aos outros, sabes que não sou necrófilo!
EliminarMeti água: António Nobre faleceu a 18 de março.
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