quarta-feira, 15 de outubro de 2014

IV. Frutos da Terra e do Homem


Poesia limiana selecionada por poetas limianos*


Álvaro Feijó**

Seleção e nota biobibliográfica: David F. Rodrigues




«Nasci numa manhã com neblina de bronze
sobre o rio.
O Sol era uma incógnita na bolsa esverdeada do horizonte
e, embora primavera, uma manhã de outono.»

[Os Poemas de Álvaro Feijó, 1961: 32]


Com esta estrofe, dá início Álvaro Feijó ao breve poema «Registo», datado de 1939. Nela, o poeta como que perspetiva o seu brevíssimo percurso de vida: uma manhã de primavera que logo fica outono. Nascido em Viana do Castelo, a 5 de julho de 1916, morre, em Lisboa, a 9 de março de 1941, três meses antes de completar 25 anos de idade. Filho de família aristocrática vianesa, Álvaro Feijó fez os estudos secundários num colégio jesuíta da Galiza. Transitou, depois, para Coimbra, onde frequentou a Faculdade de Direito. É sobrinho-neto de António Feijó (1859-1917) e sobrinho direito de Salvato Feijó (1876-1959), escritores naturais de Ponte de Lima.
Publicou, em vida, apenas um livro de versos – Corsário (1940). Preparava a edição de Diário de Bordo, quando a tuberculose o vitimou. Deve-se a Rui Feijó, seu irmão, e a amigos e companheiros de Coimbra, não ter caído no esquecimento a parca mas significativa obra poética que produziu. Com o espólio fornecido pela família e namorada, Joaquim Namorado e João José Cochofel reuniram, em 1941, Os Poemas de Álvaro Feijó (Coimbra, col. «Novo Cancioneiro»), prefaciados por Armando Bacelar. Além de Corsário e Diário de Bordo, Namorado e Cochofel selecionaram de Desgarradas (três cadernos de inéditos autógrafos do jovem poeta) um conjunto de poemas a que deram o título de «Primeiros Versos». Em 1961, sai a 2.ª edição (Lisboa, Portugália), com prefácio de João José Cochofel e posfácio de Rui Feijó. Na organização desta edição, considerada ne varietur, Cochofel contou com a colaboração de Carlos de Oliveira. Seguiram-se mais três edições, o que mostra o reconhecimento da sua obra.
Duas orientações principais se encontram na poesia de Álvaro Feijó. Uma, presente sobretudo nos seus primeiros versos, está centrada no eu e no amor (dividido entre o espiritual e o carnal), ao lado, por vezes, de um humanismo idealista. Marcada ainda por influências da poesia do tio-avô, além de outros poetas dos finais do século XIX, tal orientação está ainda presa a formas tradicionais de composição, a nível estrófico, métrico e mesmo temático. Uma segunda orientação, presente sobretudo em Corsário e Diário de Bordo, revela-nos um poeta já solto das «amarras» formais tradicionais. Recorre ao verso livre, os seus poemas são mais discursivos, mais naturais, mais espontâneos. Acentua-se a sua atenção ao real quotidiano e aos problemas sociais e humanos, fruto certamente do convívio próximo que, em Coimbra, manteve com os poetas do emergente neorrealismo português, de quem foi, aliás, companheiro e amigo: Políbio Gomes dos Santos, Joaquim Namorado, Fernando Namora, Carlos de Oliveira e João José Cochofel, entre outros.
A seleção dos poemas que a seguir se apresenta procura mostrar, dentro das limitações possíveis, as referidas orientações do poeta.
[As pp. indicadas de localização de cada poema referem-se à 2.ª ed. da obra (1961). Respeitei a grafia do original consultado. O disposição gráfica do texto e sua ilustracão sofrerão, nesta edição, várias alterações.]





* Publicado em Limiana – Revista de informação, cultura e turismo, n.º 39 (ano VIII), 2014, pp. 26-27. Esta publicação (bimestral) é editada pela Casa do Concelho de Ponte de Lima, com sede em Lisboa, sendo seu diretor José Pereira Fernandes.
** O retrato do Poeta acima reproduzido é uma gravura em madeira, de Somar,  em Os Poemas de Álvaro Feijó, 1941.

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