terça-feira, 24 de janeiro de 2017

 António Manuel Couto Viana faz hoje 94 anos.

                  ESGAR


   A doença deste velho
   É estar só.
   A sua imagem, no espelho,
   Cobriu-se, há muito, de pó.

   Teve amigos e parentes:
   Perdeu-os como perdeu
   Cabelo, dentes
   E um lugar seu no céu.

   Dantes, vinha a poesia,
   Em horas de solidão,
   Fazer-lhe companhia.
   Agora, não!

   Resta-lhe a compra de instantes
   A imitar a eternidade.
   E os livros pelas estantes...
   E a saudade...


          António Manuel Couto Viana, 1985: Uma Vez Uma Voz - Poesia Completa [1948-1983].
Lisboa: Verbo; p. [256].

Poema dito por David de Sousa Rodrigues. Obrigado!

«[…]Lírica e dramática, clássica e romântica, sentimental e irónica, a poesia de António Manuel Couto Viana, de expressão a um tempo límpida e hermética, directa e oblíqua, surde e realiza-se ao nível de interessantes antinomias. Se elas são o preço da sua modernidade, são também a certeza da sua permanência.»

David MOURÃO-FERREIRA, 1985: «De “O Avestruz Lírico” até “A Face Nua”».
Em  António Manuel Couto Viana, 1985: Uma Vez uma Voz – Poesia Completa [1948-1983].
Lisboa: Verbo; p. [28]. 


Obs. 1 - Respeitadas as grafias das edições consultadas.
Obs. 2 - Os retratos do Poeta, reproduzidos neste "post", foram colhidos em Google / Imagens / António Manuel Couto Viana.

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