Todos os dias são da poesia, como pão nosso de cada dia.
Natália Correia faz hoje 94 anos.
BALADA PARA UM HOMEM
NA MULTIDÃO
Este homem que entre a multidão
enternece por vezes destacar
é sempre o mesmo aqui ou no Japão
a diferença é ele ignorar.
Muitos mortos foram necessários
para formar seus dentes um cabelo
vai movido por pés involuntários
e endoidece ser eu a percebê-lo.
Sentam-se à mesa de um café
num andaime ou sob um pinheiro
tanto faz desde que se esqueça
que é homem à espera que cresça
a árvore que dá dinheiro.
Alimentam-no do ar proibido
de um sonho que não é dele
não tem mais que esse frasco de vidro
para fechar a estrela do norte.
E só o seu corpo abolido
lhe pertence na hora da morte.
Natália Correia, 1975: Poemas a Rebate.
Lisboa: Dom Quixote, p. 69.
NB - As imagens da Poeta foram colhidas em Google / Imagens / Natália Correia.