sábado, 24 de setembro de 2016

III. Dispersos


III.1. Poema (XLV)

            Todos os dias são da poesia e sua partilha, como pão nosso de cada dia.



Este poema foi publicado, em 1984, na coletânea A Ilha do Amores, integrada na IV Bienal de Arte de Vila Nova de Cerveira. Apresento, abaixo, imagem, com reprodução digitalizada da capa, lista dos 75 colaboradores e página de rosto. A edição é da Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto. O seu lançamento ocorreu em Cerveira, no dia 11 de agosto daquele ano.

NB - Todos os direitos reservados.

6 comentários:

  1. Tens imagens maravilhosas, David!
    És um poeta antigo, com raízes seguras.
    Deixa-me reter estes versos, amigo: "A sede eleva as gaivotas contra as ervas tristes da estação."
    És todo poesia, até nas fotos que partilhas.
    abraço

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    1. Muito obrigado, Ibel, pelo teu comentário. Sempre procuro (ontem como hoje), ao escrever um poema, fazer o melhor que sei. O que, para mim, nunca foi tarefa fácil. Mas daí a ser poeta, como generosamente me chamas... Não, prezada Amiga, eu não sou poeta. Trabalho por e para escrever versos (e, já gora, fazer fotografias) com alguma qualidade poética e estética, de que não me envergonhe (ou que não me envergonhem), uma vez publicados.
      Cordial abraço!

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  2. David Rodrigues é poeta mesmo antes de nascer. Do útero de sua mãe terá bebido todas as palavras que não se perderam ao rebentar o ribeiro das águas. O título deste poema não podia ser mais sublime. A dança das palavras desde o barro matéria do corpo incontinente, a pátria natural dos lábios até à ânfora a conter o alfabeto das ondas.
    E cito:
    "Em minhas mãos permanece a concha moldadado instante onde cabe todo o mar"
    O poeta trinta e dois anos depois continua a escrever. Com maior eloquência. A Poesia pode festejar-se.
    Margarida

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    1. Muito obrigado, Margarida, pelo teu comentário. Permite-me que te remeta, a fim de não me repetir, para o que acima disse, a propósito do comentário da Ibel. Em particular, quanto ao facto de também me considerares "poeta", tratamento agravado pela afirmação (uma generosa e evidente hipérbole) de que sou poeta, «mesmo antes de nascer». Ai, quem me dera! Não teria ganho tamanha calosidade na falangeta do dedo médio da mão direita!
      Prometo, todavia, tudo fazer por não desmerecer a consideração que manifestas pelos versos e poemas que "poieto". Com a certeza, porém, de que já não tenho idade para ser poeta. Possa eu, mesmo assim, "festejar" a Poesia!...
      Cordial abraço!
      David

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  3. Pois, meu caro David (que se diz não ser poeta, mas cujo poema o trai na sua negação), quando li este seu "exercício poético", como o David usa dizer, pensei: Ora aqui está um poema digno de manual escolar! Digno de partilhar as páginas onde (con)vivem os melhores da literatura!
    Gostei muito dele, pelos motivos já referidos nos comentários anteriores e por outros.
    Permita-me uma leitura mais freudiana do poema.
    Se considerarmos a obra a que pertence - "A Ilha dos Amores" - e a presença de determinadas palavras, não podemos deixar de dizer que todo o ato poético é um ato criativo, genesíaco, o que se confirma logo pela presença do nome "barro", que nos remete para a criação do primeiro homem, mas é também um ato reprodutivo, sexuado, dotado de um intenso erotismo, que se pressente nos vocábulos "ânfora", símbolo do feminino, na homonímia existente entre a primeira pessoa do singular que abre o título, verbo aqui com realização transitiva e o nome "falo", que evoca o masculino.
    Se considerarmos que a poesia tem na sua essência uma dimensão oralizante (escrita para ser dita), é possível entender que os dois últimos versos, que nos dizem que a poesia vive "nos lábios residentes", nos dizem também que a(s) palavra(s) poética(s), antes de beijar(em) o outro, beija(m) o próprio criador, porque lábios aqui é também beijo. Por isso, se percebe também a transitividade do verbo "falar" como estratégia conducente à homonímia a que me refiro acima. É claro que "a eloquência do corpo, / pátria natural dos lábios residentes" é a língua (linguagem) que o poeta fala, cujo dicionário é o próprio poema. Depois, não podemos esquecer outros vocábulos que remetem para o carácter clássico (ou não pertencesse ele a uma ilha dos amores, tão camoniana), que se dissemina pelo discurso poético, tais como os designativos de elementos naturais (gaivotas, ervas, violetas, ondas, areias, sol, rio, mar - o útero da vida na Terra) e a aquela concha onde cabe momentaneamente todo o mar. Ocorreu-me logo "O Nascimento de Vénus" de Botticelli.

    Não posso deixar de referir ainda a segunda pessoa do singular, o "tu", presença central no poema (leia-se "central" também literalmente), escondida num "dás-me" (que, pela ausência de referente, nos leva a pensar no "tu" como sendo a pessoa a quem o poema é dedicado???), tu esse que dá "a febre sinuosa das areias", ou seja é o causador (musa) do trabalho poético, da febre do criador. E que febre é essa? Como se esfriam as areias? Com o mar. Com "a concha moldada do instante onde cabe todo / o mar"... De facto, há aqui uma dimensão erótica muito pertinente. Mas isto é apenas uma de tantas leituras.

    Meu caro David, se não é poeta, diga-me, por favor, a quem "roubou" o poema. :)
    Estimo-lhe tudo de bom!
    Um beijinho,
    IA

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    1. Isaura, minha querida amiga, a sua generosa análise literária a este meu poema ia-me deixando "mudo". Sei, de há muito, das suas competências (críticas e criativas) nos domínios das artes poéticas. Dir-lhe-ei apenas, por isso, que a interpretação e o(s) elogio(s) que faz ao texto e ao autor, me fazem sentir, além de profundamente agradecido, muito honrado (um tanto envaidecido, até) e ainda mais responsabilizado.
      É para mim um raro e prezado privilégio contar com a Isaura, entre os leitores que avaliam os versos / poemas que vou (re)publicando. A opinião de todos esses leitores obriga-me a não desistir nem descuidar a procura ativa da Poesia. Porque ainda não sou poeta. Pelo respeito que me merecem todos aqueles que verdadeiramente o são.

      Agradeço e retribuo, querida amiga, o tudo de bom que me deseja!
      Bom fim de semana!
      Um beijinho!
      David

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