A regularidade estrófica e métrica, herdada da tradição literária, concilia-se com a temática em questão: a paisagem natural personificada é ponto de partida para um desejado regresso ao passado, à idílica (e idealizada) infância. Mas não se esgota aí a temporalidade do poema, pois o que se demanda é “a flor antiga / do meu futuro”; no fundo, o futuro escondido no passado, os sonhos da criança que brinca inconscientemente, sem conhecimento da efemeridade da vida, da irreversibilidade do tempo. Gosto muito deste “quatro em quatro”. O tetrassílabo acompanha bem as quadras. Se fossem redondilha menor os versos, o poema seria cantiga ao jeito camoniano, pois a primeira quadra grafada diferentemente funcionaria como mote das restantes…Mas o tetrassílabo quebra essa tradição e retoma (na minha opinião, claro!) um desejo de totalidade (porque quatro são as estações do ano), de mistura de tempos… Enfim, um (e)terno retorno! Parabéns, David! Só falta compor a música para o seu “exercício poético”. E por falar em música, deixo aqui decassílabos camonianos cantados por galegos:
ERRATA A pedido da autora do comentário anterior, recebi, com pedido de publicação a seguinte «errata»: «[…] onde se lê " Se fossem redondilha menor os versos, o poema seria cantiga ao jeito camoniano, " deve ler-se, como é óbvio, " Se fossem redondilha menor os versos, o poema seria quase cantiga ao jeito camoniano".
Como um "quase" pode mudar tanta coisa!»
Amiga Isaura, muito obrigado pela sua bela e sábia leitura / interpretação de «a flor e a formiga». É tão gratificante termos leitores que, como a Isaura, vão além, muito além, dos estafados "clichés" do "gosto" ou "não gosto", fazendo análises baseadas em saberes literários, retóricos, estéticos e sobretudo po(i)éticos. Agradeço-lhe, por outro lado, os parabéns, que bem gostaria de os merecer, mas, como sabe, não passo nem passarei de um simples «aprendiz de feiticeiro» (o Carlos de Oliveira desculpar-me-á, certamente, o uso do título). E quanto à música, haja compositor que a tal se afoite. O meu tempo de fazer baladas já já vai... Por fim, muito obrigado pela música de Milladoiro, cantando Camões. Um beijinho também para a Amiga!
Belíssima harmonia entre forma e conteúdo!
ResponderEliminarA regularidade estrófica e métrica, herdada da tradição literária, concilia-se com a temática em questão: a paisagem natural personificada é ponto de partida para um desejado regresso ao passado, à idílica (e idealizada) infância. Mas não se esgota aí a temporalidade do poema, pois o que se demanda é “a flor antiga / do meu futuro”; no fundo, o futuro escondido no passado, os sonhos da criança que brinca inconscientemente, sem conhecimento da efemeridade da vida, da irreversibilidade do tempo.
Gosto muito deste “quatro em quatro”. O tetrassílabo acompanha bem as quadras. Se fossem redondilha menor os versos, o poema seria cantiga ao jeito camoniano, pois a primeira quadra grafada diferentemente funcionaria como mote das restantes…Mas o tetrassílabo quebra essa tradição e retoma (na minha opinião, claro!) um desejo de totalidade (porque quatro são as estações do ano), de mistura de tempos… Enfim, um (e)terno retorno!
Parabéns, David! Só falta compor a música para o seu “exercício poético”.
E por falar em música, deixo aqui decassílabos camonianos cantados por galegos:
https://www.youtube.com/watch?v=z-ta3d5tPrg
beijinho,
IA
ERRATA
EliminarA pedido da autora do comentário anterior, recebi, com pedido de publicação a seguinte «errata»:
«[…] onde se lê " Se fossem redondilha menor os versos, o poema seria cantiga ao jeito camoniano, " deve ler-se, como é óbvio, " Se fossem redondilha menor os versos, o poema seria quase cantiga ao jeito camoniano".
Como um "quase" pode mudar tanta coisa!»
Amiga Isaura, muito obrigado pela sua bela e sábia leitura / interpretação de «a flor e a formiga». É tão gratificante termos leitores que, como a Isaura, vão além, muito além, dos estafados "clichés" do "gosto" ou "não gosto", fazendo análises baseadas em saberes literários, retóricos, estéticos e sobretudo po(i)éticos.
Agradeço-lhe, por outro lado, os parabéns, que bem gostaria de os merecer, mas, como sabe, não passo nem passarei de um simples «aprendiz de feiticeiro» (o Carlos de Oliveira desculpar-me-á, certamente, o uso do título). E quanto à música, haja compositor que a tal se afoite. O meu tempo de fazer baladas já já vai...
Por fim, muito obrigado pela música de Milladoiro, cantando Camões.
Um beijinho também para a Amiga!
david f. rodrigues